Correio Popular / 'Nosso Terrível País', de Mohamed Ali Atassi e Ziad Homsi, é antes de tudo, o que se pode chamar de filme necessário. Não pensamos muito na arte do cinema nem na linguagem ou qualquer detalhe estético. Estamos simplesmente diante de um documento filmado com uma pequena câmera e com a urgência que dele se solicita. O documentário acompanha o escritor Yassin Haj Saleh em sua fuga da pequena Douma (Síria) na direção de Raqqa — região Norte do país —, de onde ele escapa para a Turquia. E, curiosamente, um dos diretores, o jovem Ziad, de 24 anos, também se transforma em protagonista. Ocorre que, sendo fotógrafo e cineasta, ele também virou militante e até pegou em armas — acabou sendo preso por dois meses durante as filmagens. São, portanto, duas gerações de militância ainda que distintas, pois a do escritor se dá somente pela escrita. Este, sentindo−se hostilizado e podendo ser preso, decide pelo exílio deixando a mulher em Douma — Ziad segue na Síria. Os dois personagens servem para traçar um pequeno panorama da crise síria, desde que o país promoveu um movimento de libertação em 2011 contra Bashar al−Assad, o atual presidente, e este se voltou contra a população promovendo ataques a civis e destruindo cidades. As imagens falam por si: uma sequência interminável de prédios e casas em ruínas. Tanto Yassin quanto Ziad culpam Assad pela crise, mas também acusam o chamado Estado Islâmico, que prende, tortura e mata (segundo palavras dos dois ativistas) aqueles que discordam das ordens dele. Antes da sessão foi lida uma comovente carta dos diretores ao público da Mostra no qual descrevem as condições de filmagens e a alegria de poder exibir um filme como Nosso Terrível País em um festival tão importante. Como disse, o filme vale pelo que diz e o que diz é revelador e contundente.